





Como se os dois, amnésia e enamoramento, ligassem o ser humano a uma

Fonte principal:
Jack Sullivan, Hitchcock's Music. New Haven and London: Yale University Press, 2006.
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Jack Sullivan, Hitchcock's Music. New Haven and London: Yale University Press, 2006.
A produção de Hitchcock transcende em muito a recriação em filme do romance policial. Alguns dos aspectos históricos mais marcantes da História do séc. XX atravessam a sua obra, nomeadamente o período da Guerra Fria, caracterizado por uma ordem mundial bipartida, e a espionagem internacional. Disso são exemplo alguns dos seus filmes mais conhecidos, desde o início até ao fim da sua brilhante carreira: The Man Who Knew Too Much (O Homem que Sabia Demais), filmado em 1956 numa nova versão com James Stewart e Doris Day (a primeira versão datava de 1934); The Lady Vanishes (Desaparecida!), de 1938; Notorious (Difamação), de 1946; North by Northwest (Intriga Internacional), de 1959; Torn Curtain (Cortina Rasgada), de 1966; Topaz (Topázio), de 1969 - para citar um pouco de cor aqueles filmes de que melhor me recordo.
Gostaria de chamar hoje a atenção para um grupo de filmes do grande mestre que reflectem uma das correntes de pensamento mais importantes do séc. XX, a psicanálise. São três os filmes nos quais Hitchcock mais directamente se debruçou sobre esta teoria que tanta importância deu ao inconsciente humano: Spellbound (A Casa Encantada), de 1945, Vertigo (A Mulher Que Viveu Duas Vezes), de 1958, e Marnie, de 1964.
Marnie é a história de um caso de cleptomania, Vertigo a história de uma perturbação de medo das alturas, e Spellbound a história de um caso de amnésia. Nenhum destes filmes é um policial clássico, no centro do qual está o desvendar de um crime. Mas já Freud mostrara nos seus escritos sobre psicanálise e nos "Case Studies" sobre histeria como a psicanálise podia ser excitante. A excitação reside no desvendar da mente humana e dos segredos e mistérios do inconsciente. A matriz do romance policial e da análise psicanalítica é semelhante: em ambos os casos se procede do desconhecido para o conhecido, através da análise.
Se bem que Hitchcock estivesse, como realizador, provavelmente mais interessado em criar momentos altos de suspense, a verdade é que se debruçou nestes filmes sobre a psique das personagens centrais: Marnie é a história magistralmente contada de uma jovem, bela e atormentada cleptomaníaca, através do olhar do marido, até ao desvendar da causa da perturbação, uma recordação de infância que fora reprimida devido ao seu carácter traumático. Vertigo, outra obra-prima narrativa, um fracasso de bilheteira na época, foi considerado pelo American Film Institute como um dos 100 melhores filmes de sempre. A personagem interpretada por James Stewart, um detective que sofre de acrofobia, ou medo das alturas, é obrigado pelas circunstâncias a abandonar a sua actividade. Vê-se então enredado numa trama de mistério e sedução, que com grande ironia lhe permitirá curar a sua doença, ao mesmo tempo que o faz perder tragicamente a mulher que ama.
Spellbound, finalmente, é destes três filmes aquele que prefiro, por várias razões. A primeira prende-se com a inversão do lugar-comum da distribuição dos papéis feminino/masculino. Aqui é a personagem masculina, interpretada por Gregory Peck, quem sofre de amnésia, e a personagem feminina, interpretada por Ingrid Bergman, a médica psiquiatra Constance Peterson, quem o ajuda a recuperar a memória. Aprecio também no filme uma sequência do sonho sintomático de John, analisado por Constance, da autoria de Salvador Dali.
Quanto à terceira e mais importante razão desta minha preferência, explicá-la-ei muito em breve no próximo post deste blogue. Para já, aqui fica o trailer do filme:
"Do You Know What It Means To Miss New Orleans?" - Billie Holiday no cinema
O primeiro e único filme que Billie Holiday rodou foi New Orleans, de Arthur Lubin, em 1947. É um pequeno filme em que contracena com Louis Armstrong e no qual interpreta o inesquecível standard "Do You Know What It Means To Miss New Orleans?". Billie pensava que iria representar-se a si própria, mas acabou por ter o papel de uma criada, de nome Endie. Os produtores não desejavam que o filme desse a ideia de que o jazz era produto dos negros... Billie canta ainda "Farewell to Storyville" e "The Blues Are Brewing", neste filme sobre o bairro de Storyville em New Orleans.
Há um outro registo de Billie Holiday numa curta-metragem da Universal/International, Sugar Chile' Robinson, Billie Holiday, Count Basie and His Sextett, de 1950. Billie cantava neste filme a sua composição "God Bless the Child" e "Now, Baby or Never".
Billie Holiday viria a morrer em 1959 com apenas 44 anos, mas a lenda à volta desta cantora de jazz única continua.
(vd. a segunda parte da sequência fílmica de New Orleans no post anterior).