domingo, 10 de outubro de 2010

Prémio da Paz da Associação Livreira Alemã de 2010 atribuído ao escritor israelita David Grossman - o ex-candidato à Presidência alemã, Joachim Gauck, fez o discurso laudatório



Como acontece todos os anos no encerramento da Feira do Livro de Frankfurt, foi hoje atribuído o Prémio da Paz da Associação Livreira Alemã. Este ano, foi para o escritor israelita David Grossman, tendo o discurso laudatório sido proferido pelo ex-candidato à presidência alemã pela SPD e Verdes, e activista dos direitos humanos, Joachim Gauck. O prémio foi entregue hoje, 10 de Outubro de 2010, numa sessão solene na Igreja de S. Paulo em Frankfurt (lugar de importância histórica para o desenvolvimento da democracia na Alemanha, desde a Assembleia Nacional de Frankfurt em 1848). É assim desde que foi atribuído na sua segunda edição, a 16 de Setembro de 1951, a Albert Schweitzer. É praticamente impossível arranjar bilhete para este evento, mas pôde assistir-se à sessão em directo, transmitida pela ARD, o 1º canal da televisão alemã.

O Prémio é dotado com 25.000 Euros e pretende contribuir para a paz e o bom entendimento entre os povos. Foi já atribuído a personalidades de várias áreas da cultura e artes, como Martin Buber (1953), Hermann Hesse (1955), Nelly Sachs (1965), Ernst Bloch (1967), Léopold Sédar Senghor (1968), Max Frisch (1976), Yehudi Menuhin (1979), Octavio Paz (1984), Mario Vargas Llosa (1996), Susan Sontag (2003), Orhan Pamuk (2005). Os discursos laudatórios têm sido pronunciados por personalidades igualmente importantes. Este prémio foi um sinal de esperança, para uma Alemanha isolada e humilhada pela sua própria história recente (em 1950), convidando o país a repensar-se criticamente. As personalidades premiadas representam as principais correntes da história do pensamento e arte do séc. XX. Mas o "Friedenspreis" várias vezes provocou acesos debates, como quando foi atribuído a Martin Walser em 1998, tendo-se tornado deste modo no mais significativo prémio da Alemanha.

David Grossman nasceu em Jerusalém em 1954 e é um dos mais influentes escritores do seu país. Em toda a sua obra, constituída por romances, contos, ensaios e livros infantis, traduzidos em mais de 30 línguas e várias vezes premiados, é preocupação central a identidade do seu país natal e o conflito israelo-palestiniano. Estudou Filosofia e Teatro na Universidade de Jerusalém e trabalhou como redactor e autor de peças radiofónicas na rádio estatal. O romance de 1986, versão alemã de 1991 Stichwort: Liebe ("Palavra-chave: Amor"), e o volume de reportagens de 1987, versão alemã de 1988 Der gelbe Wind ("O vento amarelo"), que retrata a difícil convivência entre israelitas e árabes, tornaram-no conhecido a nível mundial. Mesmo depois da morte do seu filho Uri durante a segunda guerra israelo-libanesa em 2006, atingido por um míssil do Hezbollah, David Grossman continuou a empenhar-se activamente na reconciliação entre israelitas e palestinianos. No seu romance mais recente, Isha Borachat Mi-Besora de 2008, em versão em inglês de 2010 To the End of the Land, e alemã de 2009, Eine Frau flieht vor einer Nachricht ("Uma mulher foge de uma notícia"), o escritor continua a tentar compreender e retratar não só a sua perspectiva própria, mas também a daqueles que têm uma maneira de pensar diferente da sua. David Grossman está empenhado em mostrar que só o diálogo e a força da palavra podem pôr fim à espiral de ódio e violência.

Joachim Gauck nasceu há 70 anos em Rostock, a 24 de Janeiro de 1940, e aí estudou Teologia. Foi pastor luterano em Mecklenburg. Foi co-fundador do movimento Neues Forum em Rostock. Desde Outubro de 1989 organizou manifestações pacíficas contra o regime da RDA. Em 1990 foi um dos primeiros membros do parlamento da ex-RDA eleito em eleições livres. Depois da reunificação em 1990, o governo federal alemão nomeou-o responsável pelo arquivo e estudo dos documentos da polícia política da ex-RDA (Stasi), cargo que manteve até 2000. É desde 2003 Presidente da liga Contra o Esquecimento - Pela Democracia, que segue a elaboração da história do nacional-socialismo e da RDA, e se empenha contra o extremismo político e o racismo. Em 2010 foi candidato da SPD e dos Verdes na eleição para a presidência da Alemanha, que viria a perder na terceira volta. Publicou em 2009 o livro de memórias Winter im Sommer, Frühling im Herbst ("Inverno no Verão, Primavera no Outono").
No discurso laudatório, Gauck salientou que Grossman continuou a recusar dar à guerra a última palavra, mesmo após o acontecimento traumático da morte do filho. No seu discurso, Grossman sublinhou a necessidade de o seu país nunca mais voltar a ser vítima dos seus inimigos e dos seus próprios medos.


Fonte: página da Internet do Prémio da Paz da Associação Livreira Alemã, Friedenspreis des Deutschen Buchhandels.

Copyright da fotografia de David Grossman: Kobi Kalmanovitz.