sábado, 21 de maio de 2011


Animatógrafo de Lisboa - Voltar atrás para quê?


 Reli por estes dias Começa uma vida e Voltar atrás para quê?, de Irene Lisboa. E neste segundo livro encontrei um passo no qual a autora descreve como era o Animatógrafo de Lisboa, por altura dos anos 1950 (o livro data de 1954):

"À noite, umas vezes por outras, Jóia e a mãe iam ao cinema e levavam-na.
 O animatógrafo, como então se chamava, era de fresca data. As fitas, de corridas e perseguições, de pratos quebrados e outras fantasias simples, jocosas, recreavam um público pouco exigente.
A meio de uma destas comédias sai-se de uma vez a velha: "Olha o expediente!"
Um tal dito franco, irreprimido, grande expressão naquela boca, retraiu-a. Sentiu-se envergonhada. "Olha o expediente!" ficou-lhe a ilustrar ridiculamente os primórdios do cinema, com aquelas artes e fugas saltadas, à custa de muitos obstáculos irrisórios.
Jóia foi-se embora, finalmente (...)"

Irene Lisboa, Voltar atrás para quê?, in: Obras de Irene Lisboa (vol. IV), organização e prefácio de Paula Morão. Lisboa: Presença, 1994, p. 49-50.

Recordei-me também eu de há quanto tempo não oiço no cinema aqueles comentários "à portuguesa", como só ouvi em Portugal, em Coimbra, no meio dos filmes, às vezes com muito humor, mas evidentemente interrompendo quem queria ver o filme.

E para quando, a recuperação do Animatógrafo do Rossio, de evidente e inestimável valor histórico e artístico, que serve desde 1994 para a triste função de "Sexilândia" com uma sex-shop e peep-shows? Em qualquer outra parte da Europa se estimaria esta verdadeira jóia de Arte Nova, quando é que a Câmara Municipal acorda para os valores que a cidade tem e estão sujeitos a um uso completamente degradado?