segunda-feira, 12 de julho de 2010


A procura da verdade na arte em "La Mise à mort" de Louis Aragon - "Oedipe", o terceiro "Conto da pasta vermelha"
O "maravilhoso" significa na fase surrealista de Aragon um esforço para desvendar os "segredos" da realidade, e é como tal um conceito gnoseológico. Escreve no Paysan de Paris que a realidade é a ausência de contradição, e o maravilhoso a contradição que aparece na realidade. Aragon define surrealismo, em Une vague de rêves, como unidade de contradições, como síntese de realidade e não-realidade, e investiga a contradição como meio de conhecimento da surrealidade (não da sobre-realidade). As categorias hegelianas serviriam assim a intenção, comum a todos os surrealistas, de ultrapassar o conhecimento racional da realidade e atingir novas formas de conhecimento. Aragon e Breton recebem Hegel de modo diverso, e há diferenças na definição de "surrealismo" dos dois autores. É por isso justo interrogarmo-nos sobre o contributo de Aragon para a teoria do surrealismo. Em L'ombre de l'inventeur, Aragon equipara o conhecimento poético ao conhecimento filosófico, distanciando-se neste ponto de Breton, que procurava distinguir o conhecimento poético de todas as outras formas de conhecimento.
A estética surrealista do maravilhoso contém em Aragon uma forte componente gnoseológica, de tal maneira que podemos ver na procura da "beleza moderna" em Anicet uma etapa prévia da procura da verdade em La Mise à mort. No entanto, a procura da "beleza moderna" não poderia interpretar-se como meramente estética, os surrealistas sempre se pronunciaram contra a separação entre a arte e a vida. Mirabelle é, por um lado, a personificação da "beleza moderna": por detrás desta personagem esconde-se a "beleza moderna", venerada pelos membros de uma sociedade secreta, todos eles artistas, por detrás dos quais estão, segundo Aragon explica, pessoas reais. Anicet, por exemplo, é ele próprio, Bleu é Picasso, Pol é Charlie Chaplin, Baptiste Ajamais é Breton, etc. Mas Mirabelle é, por outro lado, uma mulher de carne e osso, ou não seria tão bela. A tentativa de unir arte e vida é tornada visível em Anicet através da figura de Mirabelle como personificação da "beleza moderna" - a equiparação da arte à vida é um aspecto desta tentativa. Em La Mise à mort, a solução deste problema é dada ao reunir a arte (do canto ou da escrita) e o amor na figura da mulher amada, Fougère, uma máscara de Elsa Triolet no romance. "Oedipe" não possui esta harmonia, já que Anthoine se distancia neste terceiro conto de Fougère, ao retomar um método de escrita da juventude, no qual não tinha ainda descoberto essa síntese harmoniosa.
(a continuar)